A pressão para que a partida fosse realizada foi grande, mas as jogadoras das Leoas apoiaram a decisão de sua treinadora de não competir. A negativa resultou em uma derrota por W.O. (sem jogo), após a recusa da equipe em entrar em campo. O incidente gerou uma série de reações e conflitos, mas a equipe conseguiu dar a volta por cima.
Derrota por W.O.
Após a decisão de não jogar, o árbitro entrou em campo e decretou a derrota por W.O., resultado aplicável quando uma equipe se recusa a competir.
A técnica Bárbara explicou a razão pela qual tomou a decisão de retirar o time da competição: “A organização se comportou de forma desleal, não informou a respeito da presença da atleta trans até o momento da partida”.
Ela também relatou o impacto nas jogadoras: “Nós nos sentimos desmoralizadas e desprestigiadas. Recebemos muitos ataques nas redes sociais. Uma jogadora nossa, que também disputava partidas por outra equipe, foi dispensada sem explicação. Ficamos isoladas, queriam nos silenciar.”
Enquanto isso, a competição seguiu, e outras equipes aceitaram a participação da atleta trans, disputando partidas contra a Fênix.
Resposta da Fênix
O time Fênix publicou uma nota oficial, defendendo a inclusão da atleta trans: “Essa atleta, assim como todas nós, busca no futebol um espaço de convivência, lazer e reconhecimento. Reafirmamos nosso compromisso com a inclusão, o respeito e a diversidade. O esporte é para todas. Transfobia não é opinião: é violência.”
Bicampeonato das Leoas
No dia seguinte, 7 de setembro, as Leoas voltaram a campo em outro torneio amador e conquistaram o bicampeonato, superando a situação difícil com uma vitória na final. Bárbara comemorou: “Revertemos a situação da véspera com uma vitória que nos deu o bicampeonato em um campeonato diferente. E, com o passar do tempo, começamos a perceber que quem nos atacava era uma minoria, e que a maior parte das pessoas concorda com nossa decisão.”
Oposição e Dilema de Tony Gol
Tony Gol, organizador do evento e responsável por torneios femininos em Campo Grande há sete anos, atribuiu o episódio à falta de regras claras sobre o tema. Ele expressou sua compreensão sobre as decisões das Leoas e da Fênix, mas afirmou ter ficado em uma posição difícil. “Concordamos com a decisão das Leoas de não jogar, mas também entendemos o lado da Fênix. Fiquei no meio de um fogo cruzado”, declarou.
Diante da polêmica, Tony chegou a considerar suspender os torneios femininos no próximo ano para evitar novos conflitos.
Disputa Desigual
Celina Luci Lazzari, diretora da Associação de Mulheres, Mães e Trabalhadoras do Brasil (Matria), lamentou a saída das Leoas do campeonato, destacando a dedicação e o amor das jogadoras pelo esporte. Ela afirmou: “Muita coisa é arrancada de uma mulher a quem é negado o direito ao esporte, ao lazer, entre as suas. Só há competição real, justa e segura em categorias exclusivas para mulheres.”
A Associação Matria divulgou um manifesto contra a participação de pessoas trans em categorias femininas. Celina argumentou: “Quando atletas do sexo masculino entram nas categorias femininas, não há inclusão, há exclusão: mulheres perdem espaço, bolsas, medalhas e até sua integridade física.” Ela ressaltou que tratamentos hormonais não eliminam as vantagens fisiológicas masculinas, como densidade óssea, força, massa muscular e capacidade pulmonar, que permanecem mesmo após hormonioterapia.
Proposta de Nova Categoria
A técnica Bárbara, que também é policial federal, sugeriu que atletas trans disputem campeonatos em categorias próprias, separadas das femininas. “No mesmo dia do incidente, foi realizado um amistoso entre duas equipes trans. Isso é inclusão de verdade! E não retira o espaço que nós mulheres lutamos tanto para conquistar”, afirmou.
Homenagem e Nova Lei
Em 23 de setembro, a Câmara Municipal de Campo Grande aprovou, em regime de urgência, o Projeto de Lei nº 11.526/25, que estabelece o sexo biológico como único critério para definir o gênero de atletas em competições esportivas oficiais no município. A proposta foi aprovada por 19 votos a 6 e agora aguarda a sanção da prefeita Adriane Lopes (PP).
A lei, de autoria dos vereadores Rafael Tavares e André Salineiro (PL), proíbe a participação de pessoas trans em equipes que não correspondam ao sexo de nascimento, estabelecendo o sexo biológico como o critério exclusivo para definir o gênero de competidores em Campo Grande.