O pastor Océlio Nauar, presidente da Convenção de Ministros e Igrejas Evangélicas da Assembleia de Deus no Pará (Comieadepa), está no centro de uma polêmica após declarações feitas durante um congresso feminino em Itaituba, no dia 9 de agosto. Em um vídeo amplamente compartilhado nas redes sociais, Nauar orientou os homens presentes a escolherem esposas com base em critérios financeiros e a cor da pele, gerando repercussão negativa e levando a investigações da justiça.
“Se você vai casar, escolha com quem você vai casar. Se você for escolher uma branquinha, tem mais despesa. Escolhe uma morena, gasta menos. As branquinhas começam a ter um negocinho aqui, comprar mais um creme, mais não sei o que. Vai ficando caro,” declarou o pastor em tom irreverente.
Essa fala gerou uma onda de críticas e levou o pastor Erivaldo Monteiro Marques a protocolar uma denúncia formal no Tribunal de Ética e Disciplina da Comieadepa, pedindo o afastamento cautelar de Nauar, com base no Estatuto Social, no Regimento Interno e no Código de Ética da instituição. O episódio também gerou ação do Ministério Público do Estado do Pará (MPPA), que abriu uma investigação para apurar possíveis discurso discriminatório com conotação racista e sexista, através da Promotoria de Justiça Criminal de Itaituba.
A gravidade da situação
A fala de Nauar não só provocou indignação nas redes sociais, como também gerou questionamentos sobre a atitude de um líder religioso com um cargo tão influente. O MPPA fundamentou sua apuração com base na Constituição Federal, no Código Penal Brasileiro e em tratados internacionais, como a Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial e a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher (CEDAW).
O Ministério Público informou que a investigação visa proteger os direitos das mulheres e promover a igualdade racial no país, destacando que a declaração de Nauar poderia configurar discriminação racial e sexista, temas extremamente sensíveis e graves no Brasil.
A defesa do pastor
Diante da repercussão, Nauar tentou se justificar. Em uma nota publicada nas redes sociais, o pastor afirmou que sua fala foi tirada de contexto e explicou que se referia à sua própria juventude humilde, quando não tinha recursos para custear certos itens. Segundo ele, a comparação entre “branquinhas” e “moreninhas” não teve a intenção de ofender, mas de compartilhar uma experiência pessoal.
“Fui mal interpretado. Falei sobre a minha realidade de quando era mais jovem e não tinha dinheiro. Aconteceu comigo, mas de forma nenhuma foi uma provocação racista ou sexista”, declarou Nauar.
Em outro vídeo, o pastor, visivelmente abatido pela repercussão, pediu orações de seus seguidores. “Eu preciso muito de suas orações diante das lutas que estamos passando”, afirmou, em um apelo pessoal em meio à crise que gerou sua declaração.
A luta pela reparação
O episódio levanta questões cruciais sobre a responsabilidade de líderes religiosos em suas palavras e atitudes, especialmente quando possuem uma influência significativa sobre suas comunidades. A sociedade aguarda os desdobramentos dessa investigação, enquanto o pastor Nauar enfrenta uma batalha para limpar sua imagem e sua integridade pública.
A ação do MPPA e a pressão de organizações e membros da comunidade evangélica buscam garantir a dignidade e o respeito nas falas de figuras públicas que lideram e influenciam grandes massas, promovendo um debate necessário sobre a responsabilidade social e os limites da liberdade de expressão.